Fui envolvido pelos companheiros contemporâneos, na missão de escrever um livro que foi consolidado pelo entusiasmado Presidente da Mahle Metal Leve, Sr. Claus Hoppen. Participei das melhores equipes, guiei os melhores carros, cerquei-me dos gênios que construíram a história do automóvel e do automobilismo do Brasil daquela época. Apresento-me como um contador de histórias, que se limita a passar aos leitores os fatos e momentos pitorescos que ocorreram entre as eras de Chico Landi e Emerson Fittipaldi. Para reconstituir os melhores momentos, esforcei-me em relembrar, dentro de nosso linguajar típico e revelando a intimidade do nosso cotidiano, como se guiavam e como eram os nossos carros de corrida, como eram os meus companheiros, os chefes de equipes, enfim, atendi ao apelo dos meus companheiros e pilotos, para tentar documentar este período tão importante que antecedeu o primeiro campeonato mundial de Emerson Fittipaldi.
Totó Porto
A fluência agradável desta leitura me fez retornar aos 15 anos, quando o amor pelo automobilismo era incontido e eu me emocionava com o estilo extravagante da pilotagem de Bird Clemente na equipe Vemag. Algum tempo depois, pilotando os fantásticos Interlagos Berlineta, ele marcou seu estilo, como fazia questão de dizer o argentino amigo de Fangio, Horácio Stevens, para quem vê-lo pilotar era o mesmo que contemplar um bailado no balanço das curvas, como se vê nas corridas de motos.
Ao longo de toda a sua carreira, andando no limite dos limites, Bird fez de seu estilo sua marca, que era a expressão não só da vontade de vencer, como do prazer de guiar naquela rotina de arrojo e habilidade, contradizendo os comentários e previsões pessimistas dos experts sobre acidentes e batidas, que, felizmente, pouquíssimas vezes ocorreram. Desfrutei, como amigo e piloto, a convivência com os melhores pilotos brasileiros, e compartilho convicto com alguns deles a opinião de que Bird Clemente só é comparável a Jochen Rindt e Ronnie Peterson e, sem dúvida, ele está entre os cinco melhores pilotos que o mundo já conheceu.
Tanto quanto José Carlos Pace, Bird Clemente foi um companheiro que me passou, sem egoísmo, as dicas para que eu experimentasse o privilégio de sua sabedoria.
Reginaldo Leme
Falar de Bird Clemente, para mim e meus amigos de juventude dos anos 1960, era como falar de Emerson, Piquet e Senna numa época em que a Fórmula 1 era algo muito distante do Brasil. Tema de conversa em nossas rodadas de chope, essa geração de pilotos que tinha nos garotos Bird, Luizinho Pereira Bueno, Marinho César de Camargo Filho, Marivaldo Fernandes, Wilsinho Fittipaldi e José Carlos Pace, mais Ciro Cayres e Camillo Christófaro os ídolos de maior brilho, nos levava a Interlagos parar tentar ficar o mais próximo possível dos boxes e poder vê-los em seus macacões de tecido comum, capacetes que nem cobriam a nuca, sentados em carros sem cinto de segurança, mas donos de um talento que os transformava em deuses.
Para nós, eram deuses. Nada menos do que isso.
Agora, vocês imaginam o que significa para mim, passados 40 anos, Bird Clemente escolher-me para escrever o prefácio do livro que conta toda a história daqueles tempos gloriosos. Com o passar do tempo eu me tornei jornalista e fui trabalhar exatamente no meio que tanto admirei desde criança descendo ladeiras em cima de carrinhos de rolimã que traziam as cores e os números dos carros daqueles ídolos. Acabei convivendo com vários deles, ouvi histórias encantadoras, e há algum tempo venho acompanhando essa tentativa do Bird de perpetuar essas histórias em um livro, do qual falamos pela primeira vez em um encontro no Café Journal, na capital paulista.
Ao ler os originais do livro, eu me emocionei várias vezes. Bird, falando ou escrevendo, é um ótimo historiador. Nas vezes em que me visitou no Linha de Chegada da SportTV, já pôde mostrar essa qualidade falando. Agora repete isso escrevendo, sempre com uma “emoção gostosa e profunda” que ele confessa. Bird não apenas viveu uma época que se tornou raiz fundamental para o sucesso internacional que nossos pilotos conquistariam no futuro. Ele também sabe transmitir tudo o que viveu de forma especial e inesquecível.
Bird sempre amou o que fez. Esteve nas melhores equipes e pilotou os melhores carros da época. Criou o profissionalismo quando entrou na sala do diretor da Vemag para pedir que a fábrica cedesse a ele e Marinho, a dupla oficial de pilotos da equipe, um carro emprestado enquanto durasse o contrato. E, mais tarde, quando trocou a Vemag pela Willys, tornou-se o primeiro piloto brasileiro a receber salário para correr. Viu nascer a indústria automobilística no Brasil e foi veículo dela ao participar do primeiro filme publicitário feito para vender automóvel.
Do grupo que fez parte da famosa equipe Willys, que teve os irmãos Fittipaldi, Emerson e Wilsinho, José Calos Pace, Luizinho Pereira Bueno e Chiquinho Lameirão, apenas Bird e Carol Figueiredo não tentaram seguir carreira na Europa. Mas não se sente frustrado por isso. Tem consciência da importância da época que viveu. Agradece a Deus por ter superado os riscos de se correr sem os aparatos de segurança que existem hoje, nem mesmo um algodãozinho no ouvido, o que lhe custou a perda de audição no ouvido esquerdo.
Bird conta segredos jamais revelados, demonstra carinho pelos companheiros e adversários com quem conviveu nas pistas, mostra a admiração que teve pelo pai, Francisco, que já ensinava os filhos a ouvir, através de um potente rádio Zenith, as corridas de Fangio e Froilán Gonzales na Europa. Dá importância especial às vitórias obtidas em dupla com o irmão Nilson, e àqueles de quem recebeu ao menos um empurrãozinho, especialmente Jorge Lettry, Luiz Antônio Greco, Mauro Salles e Wilson Fittipaldi, pai de Wilsinho e Emerson.
Bird Clemente nasceu para pilotar. Mas, graças a Deus, ele sabe contar histórias como poucos. E deixa aqui neste livro a certeza de que as conquistas internacionais de nossos pilotos não vieram por acaso. Foram uma conseqüência do talento que brota dessa paixão que o brasileiro tem pelo esporte a motor.
Claus Hoppen
Máquina, habilidade e muita coragem
Essas eram as palavras de ordem adotadas com muita propriedade pelos pilotos que iniciaram a história do automobilismo brasileiro. E, como todos eram muito arrojados, geralmente a coragem era determinante nas ultrapassagens e em outras manobras, numa época em que os equipamentos de segurança nos carros de corrida eram praticamente inexistentes. O pensamento ágil, os braços e os pés tinham de suprir o que ainda estava por vir com o avanço da tecnologia. A intuição também ajudava e, mesmo nas disputas mais acirradas, havia certa camaradagem. Eram todos concorrentes, mas o sonho comum do pódio unia-os em uma espécie de confraria.
Eram tempos românticos, de testar limites, de ousadias, com muitas manobras do tipo punta-tacco e powerslide. Os mais novatos não se preocupem, no decorrer da leitura, esses e outros termos serão esclarecidos.
O leitor vai deparar-se também com a autenticidade característica das autobiografias, mas vai ser surpreendido com o romantismo dos relatos feitos por esse piloto, que, até hoje, respira o mundo das competições. Seu amor pelo esporte veio de berço, herdado do pai, argentino fanático por motores. A produção desta obra é mais uma mostra de seu amor pelo automobilismo.
Bird Clemente foi referência nos anos 1960, quando os pilotos brasileiros começaram a despontar para carreiras internacionais. A Europa era vista como possibilidade de profissionalização, mas ele fez carreira aqui, por opção, e foi o primeiro piloto profissional brasileiro. O objetivo fundamental de nosso autor sempre foi correr, chegar na frente, “fazer bonito”, como ele mesmo diz.
E agora ele “faz bonito” como contador de histórias – e que histórias emergem de sua memória prodigiosa! Recheadas de boas lembranças, amigos inesquecíveis, detalhes pitorescos de sua trajetória e de seus companheiros, alguns revezes, mas, principalmente, trata-se de uma prova de amor ao ofício, se é que podemos chamar assim a paixão, o prazer e a obstinação que permeiam todas as palavras aqui contidas.
Bom, como também sou apaixonado pelo tema, poderia continuar discorrendo sobre o assunto, mas não vou alongar-me para que vocês possam começar logo a leitura destas páginas que, com certeza, irão enriquecer ainda mais seus conhecimentos sobre os bastidores do automobilismo.
Leiam e embarquem nas curvas da Ferradura, do Lago, do Sargento, do Sol e de tantas outras, ao lado dos maiores piloros de nossa história.
Livio Oricchio
Que fique claro: Entre Ases e Reis é um documento histórico. Mas não imagine, por favor, que Bird Clemente narra sua rica experiência no automobilismo conforme compêndios de ciência. Pelo contrário, o texto envolve o leitor do começo ao fim. É denso, tem graça, leveza. Bird Clemente ordena suas idéias como controlava com extrema habilidade seu DKW e a Berlineta Willys e, invariavelmente, vencia.
É como voltar no tempo e dispor da rara oportunidade de viver uma época que se mostrou decisiva para o que o Brasil viria a conquistar nas pistas do mundo todo. E esse sucesso está entre os maiores de uma nação no universo fascinante da velocidade. Emergiu dali, do asfalto esburacado do seletivo templo de Interlagos e das provas de rua, onde o piso podia ser de paralelepípedo “enriquecido” com trilhos de bonde.
Quem não viveu esse florescer do automobilismo profissional no país tem a oportunidade de, com a minuciosa e atenta descrição de Bird Clemente, compreender como tudo começou. Conhecer as imensas dificuldades, os desafios, assustar-se com os riscos e, claro, ter contato com o idealismo de personagens extraordinários, determinantes para a significativa evolução das corridas de automóvel no Brasil, a exemplo dos chefes de equipe Jorge Lettry, da DKW, e Luiz Antônio Greco, da Willys, dentre outros.
O caráter inédito da obra lhe confere o imenso valor histórico citado no início. Sem querer, o leitor se forma na “matéria”. A coletânea de situações experimentadas, dentro e fora dos circuitos, nas complexas relações humanas e durante convalescença de acidente flui com naturalidade impressionante. Tem-se sempre o desejo de saber, com certa ansiedade, o desfecho de cada uma dessas passagens marcantes. O leitor pode até nem se interessar por automobilismo.
Depois de terem de superar tantas provações, fica fácil entender as razões de pilotos contemporâneos de Bird Clemente, como José Carlos Pace, Emerson e Wilson Fittipaldi aventurarem-se na Europa e fazer sucesso de cara. A escola que Bird Clemente freqüentava com sua turma representava, em muitos aspectos, um curso avançado. Tinham de se virar, em tudo. Essa era a lei. De lá, só poderiam sair mesmo ases das pistas. Coordenados por reis. Tem razão, mestre Bird Clemente, faz todo sentido: entre ases e reis.
Bob Sharp
Quando Bird Clemente contou ter pensado em mim para ajudá-lo a passar para o papel a história de sua vida, não só aceitei, como fiquei exultante. O motivo? A paixão que temos em comum pelos automóveis e, claro, o fato de termos nos enfrentado um bom número de vezes nas pistas. O que ocorreu durante a execução do trabalho era fácil de prever: emoção. Emoção diante de cada fato, de cada passagem, pois somos da mesma geração, tendo eu chegado ao mundo só cinco anos depois dele. Alegrou-me sobremaneira vê-lo contando tanta coisa, falando de seus “colegas de trincheira” com imenso carinho e, sobretudo, respeito.
Foi muito bom “vê-lo” crescer no seio de uma verdadeira família, ouvi-lo falando de seus pais e irmão com ternura incomum, em especial a maneira como ele foi forjado. Tocou-me muito, também, sua gratidão a Jorge Lettry, que o deixou e a mim, bem como a uma legião de amigos e admiradores, tão prematuramente. O mais notável é o fato de tudo o que foi dito a respeito de Lettry ter sido falado antes de seu falecimento.
Mais que tudo, foi uma verdadeira viagem no tempo os três meses em que passamos com vários contatos diários, pessoalmente e por telefone. E o resultado não poderia ter sido melhor. Não só pela história em si, mas pela maneira emocionante como foi contada, algo que, tenho certeza, o leitor ou leitora apreciará imensamente desde o primeiro parágrafo.
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